O povoado de Serra das Araras, nascido há mais de 200 anos, a partir da imagem de Santo Antônio encontrada na “Gruta do Coração” por sertanejos locais, se afirmou como centro de peregrinação e de espiritualidade popular no noroeste/norte do sertão rosiano. Conhecido por muitos como o lugar de uma imagem misteriosa e milagrosa que sempre retornava à sua localização de origem quando de lá retirada, e que, por fim, se encantou, ficou invisível e, em contraponto, deu visibilidade ao local, a partir de uma trezena e uma romaria que se tornam cada vez maiores.
As duas principais festividades religiosas são a romaria de Santo Antônio, que acontece na primeira quinzena de junho e a Festa de Santa Cruz, no início de maio, ambas recebem uma grande cavalgada dos moradores da região. Serra das Araras está situada entre duas unidades de conservação, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari e o Parque Estadual Serra das Araras, as quais ofertam diversas atividades de ecoturismo como trilhas sinalizadas e cachoeiras; é, ainda, ladeada pelas lindíssimas Vereda da Catarina e a Vereda do Feio.
Seu povoamento foi iniciado por descendentes de escravos, no final do século XVIII, a população do entorno de Serra das Araras é composta em sua maioria por agricultores familiares tradicionais e comunidades quilombolas. É, pois, ponto de convergência dos saberes e fazeres de um modo de vida que articula as tradições populares, a solidariedade e a hospitalidade sertanejas numa relação de proximidade com a natureza.
O povoado é singelo e, fora dos eventos religiosos que recebem dezenas de milhares de pessoas, mantém a grande maioria dos seus imóveis fechados, com uma população próxima ao milhar e um modesto movimento local. O santuário de Santo Antônio ocupa lugar de destaque na praça central, impondo-se como a principal referência. O povoado tem ainda escolas públicas, uma unidade de saúde, casa de cultura, a base do IEF – Instituto Estadual de Florestas e diversos estabelecimentos comerciais.
A paisagem da região de Serra das Araras e do Vão dos Buracos também é palco das controversas histórias de Antônio Dó, as quais transitam entre as categorias de bandoleiro, Robin Hood ou jagunço. O famoso personagem teria vindo da Bahia ainda jovem e, depois de injustiçado numa demanda por acesso à água para o gado, enfrentou coronéis e autoridades na cidade de São Francisco no início do século XX. Ele morou por 10 anos em Serra das Araras. Citado como “severo bandido” no livro “Grande Sertão:Veredas”, tido como invencível, Antônio Dó teria o corpo fechado, nunca se deixou capturar pela polícia e está presente no imaginário e nas tradições orais do noroeste mineiro.
Além das histórias populares de Antônio Dó, o universo retratado nas obras de Guimarães Rosa, há alguns anos, vem sendo trabalhado como patrimônio imaterial por algumas organizações com atuação regional e, pouco a pouco, se faz presente nas imagens do artesanato das bordadeiras expostas na Casa da Cultura bem como nas narrativas de alguns guias locais. O viés literário rosiano é interpretado e difundido na região pelo esforço de desenvolvimento do turismo de base comunitária pelo Caminho do Sertão.