A comunidade de São José do Barro Vermelho tem o nome que carrega a presença marcante da religiosidade popular e o vínculo com a natureza, pois a Vereda de São José, um curso d’água que se interrompe no período crítico da seca, nomeia e acolhe um importante segmento populacional da comunidade.
A figura de São José é o padroeiro dos trabalhadores e das famílias e também da singela igreja local. É padroeiro dos trabalhadores por ter sido carpinteiro e das famílias pelo seu papel de protetor da família divina. Símbolo do silêncio, do senso de missão e cuidado paternal, é considerado, numa abordagem poética, “o pai da palavra”, por desempenhar o papel de pai de Jesus, “o verbo divino”.
O isolamento espacial, historicamente relacionado à dificuldade de acesso, é evidenciado na necessidade de atravessar toda a extensão do parque estadual Serra das Araras, a única via de entrada para a comunidade. Tal isolamento, aliado às precárias condições da estrada, resulta num evidente registro dos “vazios” associados à noção de sertão e leva a necessidade de que as pessoas, em busca de autonomia, desenvolvam múltiplas habilidades no manejo de várias ferramentas de trabalho, a exemplo do carpinteiro São José.
Por tudo isso, podemos afirmar que, no Barro Vermelho, o Sertão é o mundo. As manifestações culturais tradicionais encontram-se bastante vivas e preservadas: as danças de roda, as folias, os batuques, a culinária e o artesanato são traços marcantes deste povoado. A solidariedade e a cumplicidade que ali se respiram são derivadas das relações de parentesco, do compadrio e das relações de vizinhança.
A comunidade é dividida pelo rio Pardo. O vermelho do nome do lugar deriva da cor da terra. O Barro de sua denominação evoca o aspecto matricial do humano, criado a partir do barro, segundo o mito cristão da criação. Fruto da mistura de terra e água, elementos de cura e regeneração, o barro se presta a inúmeras abordagens poéticas. Uma delas é a necessidade contemporânea de “aterramento”, para a adoção de práticas sustentáveis na lida com a terra e as águas e adoção da concepção do planeta Terra como morada comum e como mãe Terra.
O rio também define os limites do Parque Estadual Serra das Araras, onde se situa parte substantiva da comunidade. Nesta comunidade, a luta pelo reconhecimento do direito à terra herdada dos antepassados evidencia a resistência social ali presente. Os paredões, onde as araras fazem seus ninhos e que são uma marca do desfiladeiro do Vão dos Buracos, apresentam-se, na paisagem, como um marco territorial e turístico aos caminhantes. A economia é de subsistência e é baseada na produção da agricultura familiar e no agro extrativismo. O carro de boi e o cavalo ainda são utilizados por muitos moradores locais em suas atividades cotidianas.