Hoje trazemos o relato oficial sobre o terceiro dia de caminhada!
Quem nos conta sobre a experiência é o mineiro, Guidyon Augusto, membro do Fora do Eixo, que participou da equipe de comunicação em campo do Caminho do Sertão.
Confira:
“Lembro-me de acordar naquele dia, em Igrejinha, com o joelho doendo, sabia que ele ainda não estava recuperado e que ter andado os mais de sessenta quilômetros nos últimos dois dias contribuiu muito não. Mas estava contente, e no meio desses pensamentos, estava tentando rever tudo o que tinha passado na caminhada.
Bem, no café ouvia os comentários sobre como havia sido à noite dos outros caminhantes, eu não fui para a “farrinha”, por assim dizer, mas tive o prazer de ver a folia, e a grande recepção (principalmente no quesito sentimental) que os moradores havia nos dado.
Protetor solar, joelheira, tornozeleira, aquecimento, água, palavras iniciais, partiu!
A saída naquele dia foi a mais animada, em minha opinião. Corri um pouco na frente, e pude capturar algumas imagens que não esqueço, melhor dizendo: não me esqueço daqueles sorrisos. Os grupos nunca foram homogêneos, todos circulavam sempre educados e tranquilos. Mas sempre houve certo ritmo para cada um, e alguns blocos se formavam. “Série A, B e C”, chamávamos os blocos, depois só havia a “série A e C” (risos), e uns “gatos pingados” no meio das duas. Pode parecer estranho, mas não houve “perdas” singulares, se errávamos um pouco o caminho, sempre era em grupo. Minhas palmas para os guias.
“Corri um pouco na frente, e pude capturar algumas imagens que não esqueço, melhor dizendo: não me esqueço daqueles sorrisos.” – Foto: NINJA
Aquele dia andei principalmente com os dois jovens da equipe de comunicação, o câmera e o técnico em áudio. Rolou até selfie! Conversamos bastante sobre a comunicação do festival, sobre os relatos, os vídeos, as fotos. Meu joelho não aguentou, e aquela foi a primeira vez que tive de ir no carro de apoio. Mas bem, não foi uma desistência de todo, só uma carona até o próximo ponto, cerca de 2,5 km. E pude tirar ótimas fotos.
“Confesso que não podia andar, mas pude ver, pude ver aquelas imagens, que ainda agora me fazem refletir” – Foto: NINJA
No próximo ponto, dúvida sobre o caminho a seguir, e bem, fomos junto com muitos caminhantes, caminho adentro pela mata, uma estradinha, descendo a serra. O local para onde nos dirigíamos era o “Córrego Menino”, rio que dava no Ribeirão de Areia, com lindas paisagens e cachoeiras (refrescar é preciso, e estava muito calor). Bem, erramos, saímos em um ponto muito abaixo do córrego, e tivemos todos de voltar. Foi bom, caminhamos uns 3 km a mais, mas compensou.
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Parada errada, mas não se pode perder a chance! – Foto: Guidyon Augusto
De volta à estrada, as conversas continuaram, um grupo mais compacto andava junto agora, histórias de Minas Gerais, São Paulo e Brasília se encontravam em meio a risadas, sorrisos, fotos, areia, suor e sol. Caminhamos, e novamente nos víamos descendo uma pequena serra (agora era o caminho certo). Passamos por uma plantação de maracujá (combinamos de na volta, provarmos se estariam bons, ou não).
Chegamos! Um vento ameno, um ar bem mais úmido, e o som do rio descendo, de pequenas quedas, de uma água cristalina. Bem, hora de descansar. Água… Lavando cada parte do cansaço, risos, ainda os escuto em meio às conversas, e aos gritos de “entra vai!”. Subi um pouco mais acima do rio, pedras altas, correnteza leve, mas se tinha de ter cuidado. Vi os nossos, conversando, boiando (literalmente na água), meditando, olhando ao longe (esse era eu).
“Lavando cada parte do cansaço, risos, ainda os escuto em meio às conversas, e aos gritos de “entra vai!”. ” – Foto: NINJA
Bem, saí da água, e fui tirar algumas fotos, além de pegar algumas entrevistas com a galera, o que estavam achando da caminhada como um todo, e daquele terceiro dia. Um relato mais surpreendente que o outro, mal podia esperar para que saísse a cobertura audiovisual do caminho.
“Um relato mais surpreendente que o outro, mal podia esperar para que saísse a cobertura audiovisual do caminho.” Foto: NINJA
Almoçamos, cantamos – “Ela só quer, só pensa em namorar; Ela só quer, só pensa em namorar” – entre outras canções. Mas esta foi o ápice, dançamos, rimos, vi uns fazendo massagem nos amigos, outros conversando sobre assuntos corriqueiros e experiências, mas tínhamos de seguir, muitas experiências nos esperavam.
“Ela só quer, só pensa em namorar; Ela só quer, só pensa em namorar” – Foto: Guidyon Augusto
Começo dizendo, pegamos 26 maracujás. Bom, o que rolou com o maracujá, fica para um pouco mais a frente no relato. E caminhamos. Sofri com o joelho, mas me mediquei, estava mais ameno. Foi um caminho longo, subidas e decidas diferente do que já havíamos vido, e do que seriam os próximos dias, “sempre reto”.
Aquela era a área da “Fazenda Menino”, que vim, a saber, que era uma imensa propriedade, que há muito foi loteado. Abismado fiquei, confesso. Questões a parte, esta segunda parte da jornada foi de risos imensos com um conterrâneo de Belo Horizonte, e os jovens da equipe de comunicação, que são de Arinos, fora os papos esporádicos com a galera do suporte, que sempre marcava presença em pontos de apoio.
“Foi um caminho longo, de conversas, de imagens, e agora de memórias” – Foto: Guidyon Augusto
Bem, chegamos à casa da Dona Geralda, local da antiga sede da imensa fazenda menino. Montei a barraca em uma das “áreas nobres”, ou devo dizer “aglomeração/conjunto habitacional”? Bem, os paulistas e os brasilienses estavam lá, e agora, as nominações regionais de cada um eram somente por enfeita, todos tinham origem no sertão (mas todos agora falavam Uai, e puxavam um “S” e um “R” de vez em quando).
Sede da Fazenda Menino, lar de Dona Geraldo e família. Foto: Lidyane Ponciano
Sobre os maracujás: Fiz cerca de 6 litros de suco com eles, e deixei em cima da mesa para que todos pudessem desfrutar junto com o lanche e com o café que estavam servidos. Bebi meio copo, quando voltei havia acabado, acredito que a galera tenha gostado.
Jantar, conversas, expectativas. A equipe de produção do festival havia preparado um papo com a Dona Geralda, sobre a vida dela e de sua família (que em peso estavam lá). E que história, de uma mulher que viveu com o suor de seu trabalho, e teve de aguentar os abusos do período da Ditadura (sim, ela trabalhou para gente importante), a qual lhe interrogou e ameaçou diversas vezes.
Aquela que viveu em um mundo diferente, a grande Dona Geralda. Foto: Lidyane Ponciano
Bem, mas esta história não conseguirei narrar, ou melhor, dizendo, não poderia.
Encerro este relato, comentando que conheci pessoas imensamente farreiras, e com uma energia sem fim, vários foram festejar na casa de um vizinho, fogueira e cachacinha convidativa haviam por lá.
E mais uma vez digo, essas memórias permanecem em mim, as memórias de uma experiência que transcende cada palavra de elogio que tenho aqui. Um viva ao Sertão, um viva ao povo, a terra, a água, um viva ao lar das experiências de Guimarães, e agora, as nossas.”